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  • Foto do escritorFabiane Marcondes

Calor, suor e secura: A sexualidade das mulheres na perimenopausa ou na pós-menopausa

Introdução


Síndrome climatérica é o termo utilizado para denominar o conjunto de sinais e sintomas geralmente apresentados por mulheres durante o climatério, o período que antecede a menopausa, ou seja, sua última menstruação. A palavra climatério tem origem na língua grega e significa ‘período crítico’. Em 1980, um grupo de pesquisadores sobre menopausa da Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs a utilização do termo perimenopausa (VALENÇA, NASCIMENTO FILHO, GERMANO, 2010). Entendendo que a palavra ‘climatério’ carrega já em sua origem o estigma da dificuldade e do preconceito, escolho utilizar nesse texto a palavra ‘perimenopausa’, ainda que ‘climatério’ tenha sido mais encontrada nas referências aqui usadas.


No período da perimenopausa, a mulher passa por alterações fisiológicas bem delimitadas, que marcam o fim da fase reprodutiva de sua vida. Tais alterações, além de desconfortos corporais, trazem consigo estigmas sociais a respeito do envelhecimento feminino. Em uma sociedade patriarcal, ainda se considera que a principal função da relação sexual na vida da mulher é gerar filhos. Então, quando ela perde tal capacidade, entende-se que ela mesma não vai mais desejar ter relações sexuais. O sexo como fonte de prazer para a mulher costuma ser esquecido, inclusive por ela mesma.


Desse modo, neste artigo pretende-se compreender o que tem sido estudado a respeito das mulheres em perimenopausa ou menopausadas, em especial no Brasil. Tal compreensão é fundamental para que sexólogos pensem em ferramentas para o estímulo à sexualidade saudável dessas mulheres.


As mulheres em perimenopausa e menopausadas


Existe na sociedade o pensamento de que, ao envelhecer, a atividade sexual desaparece, como se a pessoa se tornasse assexual. Tal pensamento recai especialmente sobre mulheres. Todavia, já se sabe que, tanto para homens quanto para mulheres, a qualidade da vida sexual antes do envelhecimento influi diretamente na manutenção e na qualidade da vida sexual na terceira idade (FRAIMAN, 2017). No Brasil, a terceira idade se inicia aos 60 anos, mas os processos biológicos e socioculturais de envelhecimento tendem a iniciar antes. A perimenopausa começa por volta dos 35 ou 40 anos, podendo ser adiantada por intervenções cirúrgicas, como a histerectomia e a ooforectomia (VALENÇA, NASCIMENTO FILHO, GERMANO, 2010).


De fato, a perimenopausa causa mudanças na resposta sexual da mulher. A redução dos níveis de estrogênio causa ondas de calor, sudorese noturna, redução da lubrificação vaginal, enfraquecimento da musculatura pélvica, dispareunia, insônia, alterações de humor e depressão (CABRAL et al, 2012). Do mesmo modo, a redução dos níveis de testosterona causa a perda de libido (FEBRASGO, 1995 apud VALENÇA, NASCIMENTO FILHO, GERMANO, 2010, p.280). Para Landerdahl (apud VALENÇA, NASCIMENTO FILHO, GERMANO, 2010, p.274), a perimenopausa envolve mais do que mudanças fisiológicas, envolve também mudanças psicológicas, sociais e espirituais, variando de acordo com a história pregressa e as condições de vida de cada mulher. E, apesar de apresentar manifestações clínicas, é importante que esse processo não seja patologizado, posto que é uma fase esperada da vida da mulher.


Em sua poesia “Estranhamento”, a escritora Maria Teresa C. R. Moreira, exprime de forma comovente o sentimento de uma mulher nesse período da vida:


Quem é essa na foto, no espelho? Eu nunca fui assim… Quem é essa, que reage estranhamente? Eu não sou assim…

[...]

A paciência, pobrezinha, encolheu O tesão, assustado, mudou-se.

Desconheço os passos desse ritmo. E trabalho para lutar, também para ceder. [...]

(CAVALCANTE, 2019)

As mudanças na vida sexual são esperadas na pós-menopausa. De acordo com Badran et al (2007), é possível que se apresentem as seguintes causas orgânicas: hipertensão arterial, diabetes, incontinência urinária, depressão, perda de massa óssea. O uso de medicamentos ansiolíticos, barbitúricos, antidepressivos e antiulcerosos também interferem negativamente na vida sexual de mulheres menopausadas. Contudo, a forma de lidar com as alterações durante a perimenopausa interferem diretamente. Segundo Fraiman (2017), a diminuição ou interrupção da atividade sexual na vida de mulheres pós-menopausa tem as seguintes razões: insistência da parceria em concretizar fantasias sexuais que a desagradam; mudanças no sentimento e no corpo (tanto em si mesma como na parceria), comparando com os anos da juventude; preocupações profissionais e/ou com a família; parceria que cobra sexo, o que leva à repulsa; crença de que o sexo deve ser espontâneo; desleixo e falta de higiene da parceria. No artigo de Valença, Nascimento Filho, Germano (2010), encontramos que o principal fator de influência, seja positiva, seja negativa, sobre o desejo sexual de mulheres em perimenopausa ou pós-menopausa, casadas ou em relacionamentos estáveis, é a vida conjugal: o tipo de companheiro (parcerias femininas não são citadas), as relações de poder dentro do casamento/relacionamento e os papéis sociais exercidos por cada um.


Em estudo com 370 usuárias de unidades básicas de saúde de Natal, Cabral et al (2012) utilizaram o Female Sexual Function Index (FSFI), para avaliar a função sexual, e o Menopause Rating Scale (MRS), para avaliação dos sintomas da perimenopausa. Anteriomente, durante estudo-piloto, também fora aplicado o WHOQOL – Bref, instrumento utilizado para a avaliação da qualidade de vida. Após análises estatísticas, os autores encontraram correlação direta entre a intensidade dos sintomas de perimenopausa, principalmente os psicológicos, e o risco de disfunção sexual.


Em outra pesquisa, realizada na cidade de São Paulo, com 43 mulheres na perimenopausa ou menopausadas, 46,5% delas declararam ter vida sexual ativa, das quais 73% relataram que atingiam orgasmo nas relações sexuais. Entre as entrevistadas, a depressão autorrelatada também foi associada à menor atividade sexual. 61,8% delas referiram menos lubrificação vaginal ao se excitar, porém apenas 34,2% disseram ter aumentado a dor durante as relações sexuais. Quanto à redução ou término da vida sexual, 46,5% relataram como causa questões relacionadas ao parceiro, como problemas de saúde, distanciamento e relacionamento conflituoso (BADRAN et al, 2007), em conformidade com Fraiman (2017).


Conforme Vigeta e Bretãs (apud VALENÇA, NASCIMENTO FILHO, GERMANO, 2010, p.281), a educação em saúde, incentivando a mudança de hábitos cotidianos, é tão útil quanto a terapia de reposição hormonal. Incluir atividades físicas, melhorar a alimentação, não fumar, reduzir a ingestão de bebidas alcóolicas auxiliam no manejo dos sintomas da perimenopausa. Em um estudo efetuado com mulheres japonesa, constatou-se que um programa de educação em saúde com duração de seis semana melhorou a qualidade das participantes, ainda que não tenha interferido diretamente nos sintomas. (UEDA, 2009 apud VALENÇA, NASCIMENTO FILHO, GERMANO, 2010, p.282)



Considerações finais


Com efeito, a educação em saúde é uma ferramenta muito relevante para facilitar o processo da perimenopausa na vida da maioria das mulheres. Para além das indicações relacionadas a exercícios físicos, alimentação saudável, autocuidado, uso de álcool e outras drogas, é necessário que tais mulheres recebam educação em sexualidade. Sabemos que mesmo hoje em dia, falar de educação sexual ainda é tabu na sociedade brasileira, o que nos leva a crer que a maioria das mulheres que estão em perimenopausa ou menopausadas hoje tiveram pouco ou nenhum contato com o assunto. Assim, tendem a ter mais dificuldade em lidar com as mudanças de sua sexualidade nesse período.


Recordando a pesquisa anteriormente citada, realizada com mulheres japonesas, reforço a importância de que sejam realizadas pesquisas semelhantes com mulheres brasileiras, nas quais a dimensão sexualidade seja incluída, levando em consideração suas percepções a respeito do assunto, assim como seus dados demográficos, visto que é importante que se compreenda a realidade das mulheres participantes. Por mais bem elaborado que seja um programa de educação em saúde e/ou educação em sexualidade, dependendo de seu convívio familiar, de sua rede de apoio, de sua profissão, a transformação do aprendizado em mudanças cotidianas pode se mostrar inviável.




Referências


BADRAN, A.V. et al. Aspectos da sexualidade na menopausa. Arquivos Médicos dos Hospitais e da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, São Paulo, v.52, n.2, p.39-43, mai/ago.2007.


CABRAL, P.U.L. et al. Influência dos sintomas climatéricos sobre a função sexual de mulheres de meia-idade. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, v.34, n.7, p.329-334, jul.2012.


CAVALCANTE, S.M. Menopausa é destaque em versos da literatura contemporânea. Portal de Notícias Sopa Cultural. 10 de jul. 2019. Disponível em: < https://www.sopacultural.com/colunas/divulga-editor/menopausa-e-destaque-em-versos-na-literatura-contemporanea/>. Acesso em: 18 de dez. 2020.


FRAIMAN, A.P. Sexualidade na terceira idade. In: DIEHL, A; VIEIRA, D. (Orgs.). Sexualidade: do prazer ao sofrer. Ed. Roca: São Paulo, 2017, 2ª edição, p.115 – 134


VALENÇA, C.N.; NASCIMENTO FILHO, J.M.; GERMANO, R.M. Mulher no climatério: reflexões sobre desejo sexual, beleza e feminilidade. Saúde e Sociedade. São Paulo, v.19, n.2, p.273-285, jun.2010.

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